quarta-feira, 25 de março de 2020

Caos e cores pela janela

Café roncando
reverberando
nos cantos
nas teias
rompendo o silêncio
dessa vista alheia
janela indiscreta
prédios brancos
trancos e barrancos
abertura repleta
de céu azul
cru e nu
são cores frias
me pergunto
quantas vidas vazias
(sobre)vivem
nesses quatrocentos nichos
mil e duzentos bichos
encarcerados
longe da sociedade
longe da insanidade
de um homem imundo
líder de loucuras
que em meio ao caótico mundo
nos afasta da cura
antibióticos
não nos livram
dessas vez
não nos privam
da embriaguez
de dias atípicos
de novos medos
de um tom apocalíptico
nesse sinistro enredo
de incógnitas
de não saber
quem vai estar
aqui ou ali
aí ou acolá
no próximo mês
no próximo ano
exibindo uma viva tez
no mano a mano
com a vida 
nas ruas
nos abraços
cada um na sua
mas em entrelaço
e eu me pergunto
nos tantos metros
que me separam
aqui nessa mesa amarela
bebendo um café preto
da próxima torre branca
quanto desse ar
que não vejo
que já não encontra beijos
não nos leva aos entes
e nos torna tão ausentes,
é transportador do caos
é o pandêmico hospedeiro
nos fazendo prisioneiros
do nosso próprio mal?
tem um fio de luz
cortando o céu
é o fio da navalha
no qual estamos vivendo
é a vala
comum
é o boom
do momento
é um tento
mostrando que nada vai bem
não tem freio esse trem
mas ainda pode descarrilhar
pode piorar.
-
Acabo de ver uma toalha
ou um tapete, um pano
um engano
não sei
é vermelha
pendurada no quinto andar
do outro bloco
fez a paleta de cores quebrar
aqueceu o gélido visual
mas enfeiou
ou tentou
me mostrar que um contraste pode, ainda, acontecer
enquanto isso sigo
com ela
comigo
aqui dentro
esperando a vida voltar.

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