quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Quilômetros

Eu ando e ando 
em elipses 
pagando a comanda 
é um eclipse 
mas não passa 
a régua 
e rechaça 
a trégua 
já não sei 
se acelero 
se espero... 
Cascata abaixo 
despenco 
me esborracho
nas avencas 
eu caio 
chorando as memórias 
visitando a história 
de soslaio 
eu rolo 
como bola 
na grama verde 
em uma reide 
entre setas 
e insetos 
inimigos 
e sereno 
eles vêm comigo 
e o veneno 
faz vergão n'alma 
cumpre a missão 
bate palma 
faz furo 
é pesado e duro 
é campeche 
se remexe  
e sai fora da estrada 
ou faz morada 
então me volto 
pra mim 
e escolto 
assim 
todas as coisas boas 
que longe voam. 
As protejo 
e daqui as vejo. 
Eu tanto ando 
tantos quilômetros 
eu me lanço 
é só pra ver 
se outra vez 
as alcanço.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Ôh, moça

Ôh, moça 
vem cá 
e vê se 
me ouça 
nesses versos 
presos no anverso 
do meu eu 
soltos no ar 
teleguiados 
a procurar 
o peito teu 
querem te dizer 
que o céu 
ainda é nosso 
sempre foi 
e eu me esforço 
e sempre vou 
pra que tu saiba 
que te amo tanto 
pra que eu caiba 
em qualquer canto 
do teu coração 
quero outro ano novo 
quero de novo 
colocar sorrisos 
no teu lindo rosto 
que dá gosto 
e passar os dedos 
pela pinta 
na tua bochecha 
ah, pinta 
outra vez 
como pode
o meu bigode 
com teu batom 
(mas que batom?) 
quero merecer 
teu carinho 
e outro amanhecer 
no nosso caminho. 
Ôh, moça 
me ouça 
eu quero é te mostrar 
que o meu caminhar 
só quer teus passos 
dividindo o espaço 
na mesma calçada 
em revoada 
ao nosso ninho 
nós, passarinho. 
Moça, por favor 
ouça, meu amor 
quero a nossa vida 
com passagem 
só de ida 
pra viagem 
do hoje-amanhã 
de felicidade 
até a terceira idade 
e te ver dormindo 
em todas as manhãs 
a coisa mais linda 
desse mundo 
fico mudo 
acarinhando, me rindo. 
Moça, meu amor 
me ouça, por favor 
eu quero lá em casa 
pendurar uns verdes 
e uma foto da gente 
naquela parede 
umas coleções 
umas emoções 
pra chamar de nossas 
pra dançar a bossa 
pra sambar a dois 
e se amar depois. 

O que eu quero, 
moça 
me ouça 
se tu quer saber 
é tu 
pra mim 
assim 
do jeitinho 
que só tu 
sabe ser.

sábado, 22 de setembro de 2018

4h54

Saudade tua 
me invade à lua 
do teu carinho 
teu aninho 
do meu peito 
teu ninho 
do breu 
nem tão breu 
nem tão meu 
nem tão teu 
é céu vão 
de estrelas 
explosão 
de centelhas
sem a manta 
azul escura 
de tantos 
entrecochados 
de pernas 
e braços 
e ternos 
abraços 
sem cura 
sem teu calor 
devagar 
com o andor 
que meu amor 
é do teu ar 
é tua pinta 
pontuando 
meu olhar 
acentuando 
o tear 
das linhas 
escritas minhas 
e tuas curvas 
nuas, turvas
da vista embaçada 
de suor 
dos óculos 
largados 
do calor 
desfoco
despreocupado 
do teu corpo 
no meu 
que é teu
barroca 
dança 
que me mata 
chibata 
alcança 
a falta 
que tu 
morena 
me faz
noite
e dia
e jaz 
meu sono
e despertar
morte
e vida
se é que eu posso
engolir o caroço
da fruta estragada
que deixei, mofada
e de vida
esse viver
descabido
chamar.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Raindrops

 


Chuva, chove 
musica meu pranto 
inquieta, me move 
aquieta meu canto 
acalanto 
em desencanto.
Chuva, acalma 
que nada 
lava a minh'alma 
me desaba 
que eu sou casa 
pré-fabricada 
na beirada 
do barranco 
em preto e branco 
esperando o sopro 
da natureza 
me fazer escopo 
de toda a dureza 
necessária ou não 
represália do cão... 
Vem, chuva 
me leva 
me dá teu voto 
de minerva 
e me apaga de vez 
que eu sou sol rabiscado 
naquela calçada 
da sete dois 
faz isso agora 
sem demora 
e me (dis)seca depois.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Tenta

Já não aguento
teus olhos baixos
molhados
sofridos 
pelados 
de brilho 
ainda tento 
ao menos acho 
que indico o caminho 
pra ti
minha querida 
tanto nos levou 
nos teus braços 
no teu colo 
me abraça 
te imploro 
eres un niño 
mi cariño 
que miedo tengo 
meu dengo 
de perderte 
y solo verte 
en mis sueños 
serian muy buenos 
pero no quiero 
nunca 
que te vas 
jamás 
aunque sí 
yo sé 
que tu hora 
llegará 
sin embargo 
no ahora
y en verdad 
nadie sabe 
mirando de lejos 
lo que pasa 
en tu cabeza, 
mi amor 
en tu corazón 
nadie nadie 
ni nosotros 
tan cerca 
não perca 
a esperança 
nessas andanças 
não tropeça 
na estante 
te peço 
nesse instante 
não caia 
na laia 
do meio copo 
de veneno 
e nem te condeno 
porque eu, topo 
mas tenta 
não cair 
pra não mais levantar 
tenta 
não sair 
pra não mais voltar.

Otra vez

Já não sei pr'onde corro
nem sei ajudar
se vivo ou se morro
ela segue a nadar
contra a maré
onde não dá pé
morre na praia
corre da raia
eu me anulo
erro o pulo
é só paulada
decisões erradas
dou de cara no muro
e em apuros
ela vive
é um cabide
de tristezas
desconhece a leveza
coitada
ficou parada
mientras la vida
se fue, pasó
ah, vida, jodida
nos enclaustró
en una sala
sin puerta
sin ventana
sin suelo
sin nada
ella está cansada
años y años
llorando 
en el baño
murriendo 
poco a poco
y nosotros, locos 

eu não aguento mais
eu fico pra trás
em cada página
desse maldito livro
eu me livro
de duas lágrimas
enquanto a cidade passa
pela janela
o olho embaça
e eu só penso nela
que a essa hora
dorme e acorda
roendo a corda
só quero ir embora
de uma vez
cheio dos talvez.

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Trilhos

O amarelo da mesa 
riscou todo 
confundiu tudo 
com o amarelo do riso
sem graça 
da vergonha 
que não passa 
é uma engronha 
foi tanto peso 
na fala 
na atitude 
atirando as malas 
daquela altitude
que racharam-se os trilhos 
do trem da vida 
joelho e milho 
viagem sofrida 
eu construí 
com maestria 
um percurso torto 
atabalhoado 
e chovia 
na tarde morta 
meus pés molhados 
frios como pedra 
trilharam 
essa merda 
e afundaram 
pouco a pouco 
no assoalho 
movediço 
daquele mesmo trem 
de trilho estragado 
no vagão de quem 
com voz embargada 
já nem sabe 
o que diz 
o que faz
pra onde vai 
se é que vai 
já nem cabe 
por um triz 
no que jaz
na própria existência 
a cabeça pesando 
a consciência 
martelando 
com berros
os erros 
nada em comum 
ziriguidum 
do trôpego andar 
perdido no espaço 
no ar
em cima do laço 
no desespero 
tentando colar 
com esmero
os trilhos rachados 
manchucados 
que um dia 
me levaram pro altar.

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Vacina

Tomei a vacina 
e estou gripado 
dói a cabeça 
dói o peito 
é como na vida 
a gente se vacina 
contra tudo 
que acha que pode 
dar errado 
e na inocência 
procura um bode 
expiatório 
é aqui sim 
o purgatório 
a gente tenta 
o tempo todo 
não afundar 
nesse monte de lodo 
e se vacinar 
(bah, me falta o ar)
mas corre perigo 
de morte 
de tentar a sorte 
dar o tiro 
e ele sair 
pela culatra 
e olha que eu miro 
mas há sempre de vir 
uma narrativa barata
mudando de rumo 
saindo do prumo
sou eu próprio 
solilóquio
cheio de dúvidas 
com a testa úmida 
ardendo em febre 
delirando, suando 
e comprando 
gato por lebre 
pensei tanto 
pesei tanto 
botei na balança 
atirei a lança 
pro destino 
me achando um bom homem
que nada 
uma porra de um menino 
que quando todos somem 
sente medo 
estrala os dedos 
um por um 
ouve o zumzumzum 
do mundo 
espera uns minutos 
e refaz o processo 
eu já nem meço 
as consequências 
eu já nem peço 
por consciência 
mas confesso 
queria saber 
pelo menos por um dia 
nessa passagem arredia 
que diabos vou fazer.