quinta-feira, 19 de julho de 2018

Vacina

Tomei a vacina 
e estou gripado 
dói a cabeça 
dói o peito 
é como na vida 
a gente se vacina 
contra tudo 
que acha que pode 
dar errado 
e na inocência 
procura um bode 
expiatório 
é aqui sim 
o purgatório 
a gente tenta 
o tempo todo 
não afundar 
nesse monte de lodo 
e se vacinar 
(bah, me falta o ar)
mas corre perigo 
de morte 
de tentar a sorte 
dar o tiro 
e ele sair 
pela culatra 
e olha que eu miro 
mas há sempre de vir 
uma narrativa barata
mudando de rumo 
saindo do prumo
sou eu próprio 
solilóquio
cheio de dúvidas 
com a testa úmida 
ardendo em febre 
delirando, suando 
e comprando 
gato por lebre 
pensei tanto 
pesei tanto 
botei na balança 
atirei a lança 
pro destino 
me achando um bom homem
que nada 
uma porra de um menino 
que quando todos somem 
sente medo 
estrala os dedos 
um por um 
ouve o zumzumzum 
do mundo 
espera uns minutos 
e refaz o processo 
eu já nem meço 
as consequências 
eu já nem peço 
por consciência 
mas confesso 
queria saber 
pelo menos por um dia 
nessa passagem arredia 
que diabos vou fazer.