Tomei a vacina
e estou gripado
dói a cabeça
dói o peito
é como na vida
a gente se vacina
contra tudo
que acha que pode
dar errado
e na inocência
procura um bode
expiatório
é aqui sim
o purgatório
a gente tenta
o tempo todo
não afundar
nesse monte de lodo
e se vacinar
(bah, me falta o ar)
mas corre perigo
de morte
de tentar a sorte
dar o tiro
e ele sair
pela culatra
e olha que eu miro
mas há sempre de vir
uma narrativa barata
mudando de rumo
saindo do prumo
sou eu próprio
solilóquio
cheio de dúvidas
com a testa úmida
ardendo em febre
delirando, suando
e comprando
gato por lebre
pensei tanto
pesei tanto
botei na balança
atirei a lança
pro destino
me achando um bom homem
que nada
uma porra de um menino
que quando todos somem
sente medo
estrala os dedos
um por um
ouve o zumzumzum
do mundo
espera uns minutos
e refaz o processo
eu já nem meço
as consequências
eu já nem peço
por consciência
mas confesso
queria saber
pelo menos por um dia
nessa passagem arredia
que diabos vou fazer.