segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Fadiga

Cansado das paradas de ônibus
Cansado das paradas da polícia
Cansado de sair com medo
Cansado do monitor e dos boletos
Cansado do silêncio e do barulho
Cansado das fofocas e especulações
Cansado das macros e dos ajustes
Cansado das liberações e confusões
Cansado de correr e não chegar
Cansado de esperar
     que sejam corretos, que façam como eu faria
     que valorizem, que se importem
     que a garrafa venha, que o copo encha, que a visão se embaralhe
     que os dias e semanas e meses e anos passem logo
Cansado das olheiras constantes
Cansado das poucas horas de sono
Cansado da falta de tempo
Cansado do desânimo
Cansado da fadiga que a fadiga traz.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Pele (sem pudor)

Te quero sem rusga, sem blusa
Quero sem hora; pudesse, agora
Te quero bem quente,
Como a gente é que sente
Te quero sem tempo pra parar,
Quero em tempo de parar e ficar.
No teu calor, sem me recompor
Sem dor, e muito mais, sem pudor.
Te quero sem ir pra casa depois
Quero lá, à meia luz, só nós dois

Te quero sem rima, sem estrutura, sem métrica.

Te quero sem nada, sem compromisso, sem ter porquê, sem regra e sem roupa, sem explicação.
Te quero sem dar satisfação, sem evento, sem espera, sem demora, sem carranca e sem choro.
Te quero com tudo.
Te quero sem nada.
Sem nada, mas só com a pele.
É na pele que tudo muda, na pele que mandamos no mundo, que até a respiração faz música, é a pele que nos leva àquele lugar, a pele sente o cheiro e o gosto, a pele arrepia, a pele é que lava a alma, a pele é que salva.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Vem cá (Quando tu chegou)

Vem cá
Vem escutar a carta que eu escrevi pra ti
Na máquina de escrever sem papel
Sem papel, mas de verdade
De verdade, com amor

Vem cá
Senta ao meu lado aqui na grama
Vem e faz meu coração bater
Bater acelerado
Mas sem pressa de chegar

Pois quando tu chegou
Trouxe tantas cores
E até flores eu passei a notar
Nas mesmas ruas
Por onde eu sempre passei
Em preto e branco

Vem cá
Vem ser o que eu idealizei
Em uma menina, uma mulher
Vem sorrindo
Me fazer sorrir

Vem aqui
Vem, eu não te peço nada demais
Te peço apenas que jamais me deixe
Não deixe a minha vida
Tão sem graça

Pois quando tu chegou
Trouxe tantas cores
E até flores eu passei a notar
Nas mesmas ruas
Por onde eu sempre passei
Em preto e branco, em preto e branco.