quinta-feira, 26 de março de 2020

Fresta

No fim nem te falei 
que ontem pela manhã 
eu te fresteei 
pelos seis ou sete centímetros 
da porta entreaberta 
do nosso quarto 
fiquei ali parado 
um tempinho só 
são tantos anos
e às vezes 
ainda me pego encantado 
pela pintura crua 
do teu rosto 
dormindo 
tuas pernas nuas 
o aposto 
de um quadro lindo 
que eu posso contemplar 
dia a dia 
noite a noite 
e tu tem tantas facetas 
anjo guria mulher 
do riso do choro do gozo 
é um repouso 
da vida lá fora 
poder estar aqui 
te vendo dormir 
te vendo acordar 
descabelada me faz sorrir 
e eu sei que tá um caos 
o mundo, a vida 
talvez até teu peito 
o coração 
em furacão 
mas eu quero estar ali 
no frestear da porta 
te olhando 
ou ao teu lado na cama 
ou embaixo de ti 
te tendo 
ou massageando 
tuas costas, tua alma 
só quero estar 
ali.


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