sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Aberan, Ziranita.

Aberan é um agente – equivalente a um soldado, se fosse na polícia comum – que trabalha em  uma agência de serviço secreto não governamental posicionada contra o crime, algo como uma polícia mesmo, mas que não deve satisfação ao governo, é particular.
Diga-se de passagem, um agente sem igual. Sempre esforçado, sempre dando o seu melhor, com transparência. Diferentemente da maioria dos agentes que trabalham com ele, Aberan é totalmente contra qualquer tipo de corrupção, sempre foi. Pelo contrário, ele luta contra esse tipo de coisa, vive externando o nojo que tem disso. Um agente exemplar!


Ziranita é o superior de Aberan – algo como um sargento – e é uma pessoa no mínimo diferente. Hora sorridente com todos os agentes, hora carrancudo, brigando com Deus e o mundo. Mas ele tem uma relação de proximidade maior com Aberan, bem maior do que com qualquer outro agente e sendo assim, fez dele um parceiro, um agente que tem até regalias, visto que é mesmo diferenciado. Algo bem maior do que “gerente-peão”...
Não foram poucas as pessoas que ouviram Ziranita falando que Aberan é um agente sem precedentes, que é mesmo diferente e que pretende ficar com ele na equipe para o sempre, ou enquanto as saúdes físicas e mentais deles permitirem! Sempre comenta também que um agente assim, que é contra qualquer tipo de corrupção, não é fácil de encontrar.
Mas, este “sargento” da equipe é dono de uma inconstância peculiar e tanto Aberan quanto o resto dos que o cercam passam trabalho com ele, quando está de humor atravessado. Nunca foi de fácil convivência, na verdade, mas é uma pessoa de bom coração. Quem não deixa mentir sobre isso é Karn, um amigo de infância de Ziranita, que nunca o abandonou, sempre permaneceu junto, em todas as horas, nas comemorações e nas tristezas, enfim, um amigo de verdade.

Como Ziranita se tornou muito próximo de Aberan, este desenvolveu também uma amizade com Karn e por algumas vezes até conversaram sobre o jeito intenso do chefão, que por muitas vezes, provocou alguns incidentes nas relações dentro da agência.



O caso é que, certa feita, chegou uma denúncia anônima na agência, uma correspondência de envelope preto, destinada a Ziranita, falando que Aberan havia se envolvido com um bandido, que havia participado de uma coisa que ele sempre disse que era contra: corrupção! (não havia prova alguma na denúncia)
Mesmo conhecendo Aberan, mesmo tendo sempre elogiado o mesmo, para todos, por um motivo o qual não se sabe, Ziranita se enfureceu e chamou o agente em sua sala, para uma conversa. Aberan foi, sem saber de nada, tranquilamente, até a sala.

Ao chegar, a surpresa: seu superior e parceiro de tanto tempo havia depositado tamanha credibilidade na correspondência, que desferiu xingamentos, falou coisas que realmente o deixaram sem entender nada.

Aberan se entristeceu muito, por saber que era uma calúnia e por saber que sempre se esforçou ao máximo em todas as operações, demonstrando o quanto era contra a corrupção! Decepcionado, ele saiu da sala, pegou suas coisas e guardou em uma outra sala, de pouco acesso na agência. Um dia depois, conseguiu trocar umas folgas com um colega e saiu por uns dias, sem que seu superior soubesse, pois estava completamente desnorteado. Para onde foi, ninguém nunca soube.

Dois dias depois, Ziranita deu sua falta, chamou uns agentes e perguntou sobre. Descobriu a “fuga” de Aberan e mandou que botassem suas coisas pra fora! Não queria nunca mais saber do seu até então agente preferido, ali na agência, pois este pareceu se acusar ao sumir!
Após mais alguns dias, Aberan resolveu voltar, pois pensou que devia então, provar que não tinha culpa! Só que, ao chegar, se deparou com a sala onde deixou suas coisas, vazia, sem nada. Por acaso, Karn estava ali na agência, de visita, vinha visitar Ziranita às vezes. Este lhe falou que, o chefe gostava muito dele, mas devido ao seu jeito estranho, havia mesmo duvidado de sua seriedade e da sua palavra. Logo, não queria mais vê-lo nem pintado de ouro...

Aberan voltou para casa, sabendo que estava demitido e pensou mil coisas. Coisas como “se eu sou um agente diferenciado, sempre fui merecedor de elogios, se minha honestidade e minha seriedade sempre chamaram a atenção do homem... Por que duvidar de mim?”... Logo pensou que não deveria nunca mais procurar nem a agência e nem Ziranita, que eles não o mereciam. A partir dali, passou a carregar consigo uma raiva enorme de quem quer que tenha inventado a história da corrupção e uma vontade maior ainda de descobrir quem foi, provar sua inocência e se vingar do pilantra!

Mas era um homem bom e lidava muito bem com o tempo e com a paciência. Após algumas conversas com Karn, ficou sabendo que seu antigo superior sentia sua falta na agência e que continuava falando nele como se ainda fizesse parte da equipe, mas não o chamava de volta para não dar o braço a torcer. Pensou dias e dias, se valia a pena passar por cima de seu orgulho, que havia sido fortemente ferido e ir falar com Ziranita. Pensou que já tinha o feito algumas vezes e que mesmo assim, aconteceu de novo.

Mas pensou também que sua vida estava incompleta, pois por muito tempo aquele serviço foi tudo pra ele, onde empregou sua fidelidade, suas maiores habilidades, tudo que o fez ser um agente tão diferenciado assim. Pensou que, alguém deveria ceder.
Resolveu então, ir até a agência e falar com o seu antigo chefe.

Ziranita o recebeu com frieza, falando sobre o seu possível envolvimento com corrupção. Falou um monte de coisas que o magoaram, até. Aberan ficou surpreso, já que Karn tinha dito tudo aquilo antes! Então, se acalmou e lembrou do jeito estranho do chefe, que não era novidade pra ninguém e  que era automático, meio que uma defesa.
Alguns longos minutos de conversa e Aberan o lembrou de tudo como era antes, o como construiu a imagem de agente diferenciado, de como era sério em tudo o que fazia, do quão importante isso tudo era. Finalizou perguntando se em todo tempo na equipe, alguma vez fez algo para levantar qualquer suspeita. Ziranita ficou um pouco em silêncio e logo depois, abriu o jogo, disse o quanto a agência sentiu a sua falta!

Enfim, Aberan voltou à agência, que voltou a ter aquele diferencial de sempre, em todas as operações, em tudo! E deu continuidade à sua nova meta: descobrir o autor da mentira que quase acabou com todo o planejamento de vida que ele tinha, que era se aposentar na agência e viver bem! (ele ainda não descobriu quem foi)
Ziranita nunca disse se aceitou que a correspondência era caluniosa, simplesmente voltou a tratar seu agente preferido como sempre foi, como ele sempre mereceu. E tudo voltou a ser muito bom, voltou a funcionar perfeitamente!
Um verdadeiro final feliz. Não um final, porque a história não acabou aqui, mas um desfecho de capítulo, talvez. Um desfecho de capítulo feliz, aí sim!


Talvez fique a dúvida: “Aberan deveria mesmo passar por cima do orgulho de novo e procurar Ziranita para conversar?”
Não sei, ninguém sabe.

O que se sabe é que, se não o tivesse feito, viveria infeliz, engasgado com a injustiça e com a sensação de que poderia ter sido diferente.
Ou seja, Ziranita teria uma equipe comum, sem o seu agente mais eficiente e Aberan seria infeliz.




E isso remete a muita situação na vida real, de todo mundo. Vai além do conto...